Reparar para doar: Porto aposta na circularidade e lança EcoPorto
A cidade do Porto deu mais um passo significativo rumo à sustentabilidade com o lançamento do projeto EcoPorto, uma iniciativa que visa fomentar a economia circular e a reparação de bens como forma de reduzir o desperdício e incentivar a reutilização. O projeto, que envolve a reparação de equipamentos eletrónicos, móveis e outros bens de consumo para posterior doação a famílias carenciadas, é uma resposta inovadora aos desafios ambientais e sociais da cidade.
O conceito de economia circular
A economia circular tem ganho cada vez mais espaço nas políticas públicas, sendo vista como uma alternativa ao modelo económico linear tradicional, baseado na produção, consumo e descarte. No Porto, a criação do EcoPorto reflete a aposta da autarquia em promover um sistema que prolongue o ciclo de vida dos produtos, evitando o seu desperdício prematuro.
Ao fomentar a reparação de bens e a sua redistribuição para famílias e instituições que necessitam, o município não só reduz a quantidade de resíduos, como também apoia a inclusão social e combate a desigualdade. Segundo a Câmara Municipal do Porto, o projeto está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, particularmente no que toca à produção e consumo sustentáveis e à redução das desigualdades.
Como funciona o EcoPorto
O EcoPorto opera em três frentes principais: recolha de bens, reparação e doação. A população pode entregar eletrodomésticos, móveis, roupas, brinquedos e outros bens que já não utilizam nos ecopontos espalhados pela cidade ou diretamente no centro de reparação. Equipas especializadas verificam o estado dos artigos, que são posteriormente reparados e renovados para estarem em condições de uso.
Uma vez reparados, os bens são distribuídos através de uma rede de parceiros, que inclui instituições de solidariedade social, centros comunitários e organizações sem fins lucrativos. Estes, por sua vez, identificam famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade económica, garantindo que os produtos recuperados cheguem a quem mais necessita.
Segundo Carlos Pimenta, vereador do Ambiente e da Transição Energética do Porto, o EcoPorto não se limita apenas a promover a reutilização de bens. “Este projeto é uma oportunidade para educar a população sobre os benefícios da economia circular e mostrar que muitos dos produtos que consideramos obsoletos podem ganhar uma nova vida e ser úteis para outros,” afirmou Pimenta.
Parcerias estratégicas e impacto ambiental
O EcoPorto conta com diversas parcerias estratégicas, que incluem empresas de tecnologia, associações ambientais e universidades, para garantir a máxima eficiência no processo de reparação e redistribuição de bens. Um dos parceiros chave é a Universidade do Porto, que através da sua faculdade de engenharia, contribui com conhecimento técnico especializado para otimizar os processos de reparação, especialmente no que toca a equipamentos eletrónicos e eletrodomésticos.
Outro pilar importante do projeto é a colaboração com organizações de recolha de resíduos. Sérgio Marques, diretor da LIPOR, empresa responsável pela gestão de resíduos na região do Grande Porto, destacou que “o EcoPorto tem o potencial de reduzir significativamente a quantidade de resíduos sólidos urbanos que vão para aterro, ao mesmo tempo que promove um modelo mais sustentável de consumo.”
Estima-se que, com a implementação do EcoPorto, a cidade possa recuperar e doar milhares de artigos por ano, o que contribuirá para a redução da pegada ecológica do município. De acordo com os primeiros dados divulgados pela Câmara Municipal, nas primeiras semanas de operação piloto, o projeto já permitiu evitar que mais de 200 equipamentos eletrónicos fossem descartados de forma inadequada, dando-lhes uma nova vida nas mãos de quem mais precisa.
A vertente social do EcoPorto
Além dos benefícios ambientais, o EcoPorto tem uma vertente social extremamente relevante. Num contexto em que muitas famílias continuam a enfrentar dificuldades económicas, especialmente em consequência da crise pandémica e da inflação crescente, o projeto surge como uma solução concreta para mitigar os efeitos da pobreza.
As instituições de caridade envolvidas no processo de distribuição dos bens reparados estão a desempenhar um papel fundamental na identificação das famílias mais carenciadas. Joana Ribeiro, diretora de uma dessas instituições, elogiou a iniciativa: “Para muitas das famílias com quem trabalhamos, o acesso a um eletrodoméstico funcional ou a uma cama nova faz toda a diferença. O EcoPorto não só alivia a pressão financeira, mas também devolve dignidade a essas pessoas.”
A inclusão de voluntários no processo de reparação é outro fator importante. O projeto oferece formação a jovens e adultos desempregados, capacitando-os com competências em áreas como a reparação de eletrodomésticos e marcenaria. Estes voluntários, além de contribuírem diretamente para o sucesso do EcoPorto, ganham novas oportunidades de emprego no mercado de trabalho.
Desafios e futuro do projeto
Embora o EcoPorto tenha recebido elogios generalizados, o projeto enfrenta desafios significativos. Um dos principais é garantir a adesão contínua da população, não só na entrega de bens, mas também na adoção de uma mentalidade mais sustentável e circular no seu dia-a-dia. “Precisamos de mudar a forma como olhamos para o consumo. A ideia de que o reparável é descartável tem de ser repensada”, afirmou Carlos Pimenta.
Outro desafio é o financiamento a longo prazo. Embora o projeto conte com o apoio inicial da Câmara Municipal e de alguns patrocinadores privados, será necessário garantir recursos para que o EcoPorto continue a crescer e expandir as suas operações.
Ainda assim, o otimismo prevalece. A Câmara Municipal do Porto planeia expandir o EcoPorto para outros bairros da cidade e criar parcerias com mais empresas e universidades. Além disso, há planos para replicar o modelo noutras cidades portuguesas, promovendo a economia circular como uma solução nacional para os desafios do consumo excessivo e do desperdício.
Conclusão
O lançamento do EcoPorto representa um avanço significativo na estratégia de sustentabilidade e economia circular do Porto. Ao promover a reparação de bens e a sua redistribuição para quem mais precisa, a cidade está a adotar um modelo inovador que combina responsabilidade ambiental com impacto social. Com uma rede de parcerias fortes e o envolvimento da comunidade, o EcoPorto tem o potencial de se tornar uma referência nacional e internacional em termos de práticas sustentáveis e solidárias.
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