FNAM não exclui futura greve concertada entre médicos e enfermeiros
Lisboa, 25 de setembro de 2024 — A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) deixou em aberto a possibilidade de uma greve conjunta entre médicos e enfermeiros, caso as negociações com o Governo sobre a melhoria das condições de trabalho e a atualização das grelhas salariais continuem sem avanços significativos. Esta informação foi revelada durante uma conferência de imprensa realizada em Lisboa nesta quarta-feira, onde representantes das duas classes profissionais manifestaram o seu descontentamento com a situação atual do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Insatisfação crescente
O setor da saúde em Portugal tem vivido momentos de crescente tensão. Os profissionais de saúde, especialmente médicos e enfermeiros, apontam para a falta de condições de trabalho adequadas, o que, segundo eles, compromete a qualidade dos cuidados prestados aos utentes. Entre as principais reivindicações estão a revisão das grelhas salariais, a contratação de mais profissionais para aliviar a sobrecarga de trabalho e a melhoria das condições físicas nos hospitais e centros de saúde.
“Estamos num ponto de rutura. O que pedimos não são luxos, mas condições mínimas para podermos exercer a nossa profissão com dignidade e segurança. Sem médicos e enfermeiros valorizados e com boas condições, o SNS corre sérios riscos de colapso”, afirmou Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM).
Além disso, a FNAM destaca que muitos profissionais de saúde estão a considerar emigrar para outros países, onde as condições laborais e remuneratórias são mais atrativas. “Não podemos continuar a perder médicos e enfermeiros altamente qualificados para o estrangeiro. Portugal tem de reter estes talentos para assegurar a sustentabilidade do SNS”, acrescentou Joana Bordalo e Sá, presidente da FNAM.
Negociações paralisadas
Até o momento, as negociações com o Governo têm se revelado infrutíferas. Apesar de várias rondas de discussões, o Ministério da Saúde não apresentou soluções que satisfaçam as exigências dos sindicatos. O secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, afirmou que o Governo está a trabalhar para encontrar uma solução, mas os sindicatos denunciam a falta de ações concretas.
“Estamos sempre abertos ao diálogo, mas o que temos visto são promessas vagas e nenhuma medida palpável para resolver os problemas de fundo”, disse Guadalupe Simões, dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP). “Se as negociações não avançarem, não excluímos a hipótese de um movimento grevista conjunto.”
Impacto no SNS
Uma greve concertada entre médicos e enfermeiros teria um impacto devastador no SNS, particularmente num período em que o sistema de saúde ainda lida com as repercussões da pandemia de COVID-19 e os desafios de atender uma população cada vez mais envelhecida. O presidente do Conselho das Escolas Médicas Portuguesas, Fausto Pinto, alerta para as consequências catastróficas de uma paralisação prolongada.
“Qualquer interrupção significativa nos serviços de saúde pode colocar vidas em risco. Entendemos que as reivindicações dos profissionais de saúde são legítimas, mas é fundamental que todas as partes envolvidas encontrem uma solução antes que se chegue a um ponto irreversível”, destacou.
Segundo dados do Ministério da Saúde, o SNS já opera com uma grave escassez de profissionais. Estima-se que faltem mais de 5.000 médicos e cerca de 10.000 enfermeiros para cobrir as necessidades atuais do sistema. Esta carência, aliada às condições precárias, tem levado a uma sobrecarga de trabalho para os profissionais em serviço, o que impacta diretamente na qualidade do atendimento aos doentes.
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Perspetivas para os próximos meses
Embora o cenário atual pareça sombrio, há ainda esperança de que se possa evitar uma greve concertada. O Governo, por sua vez, afirma que está comprometido em melhorar as condições do SNS e que, nos próximos dias, serão anunciadas novas medidas para tentar chegar a um consenso com os sindicatos.
“Temos consciência da importância dos médicos e enfermeiros para o bom funcionamento do SNS. Estamos empenhados em apresentar soluções concretas nas próximas semanas que vão ao encontro das suas reivindicações”, assegurou Lacerda Sales.
No entanto, os sindicatos permanecem cautelosos e afirmam que a paciência dos profissionais de saúde está a esgotar-se. “Esperamos que o Governo compreenda a gravidade da situação e tome medidas reais. Caso contrário, os próximos meses podem ser marcados por uma instabilidade sem precedentes no SNS”, concluiu Joana Bordalo e Sá.
Conclusão
Enquanto as negociações continuam, o futuro do SNS permanece incerto. A possibilidade de uma greve conjunta entre médicos e enfermeiros representa um alerta claro para a urgência de soluções estruturais que assegurem a qualidade e sustentabilidade do sistema de saúde em Portugal.