“Realisticamente otimista”: Marcelo insiste na convicção de que “vai haver Orçamento”
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reafirmou ontem a sua confiança na aprovação de um novo Orçamento de Estado para 2025, apesar das atuais divergências políticas que têm marcado o debate público em Portugal. Durante um discurso realizado no Palácio de Belém, Marcelo reiterou estar “realisticamente otimista” quanto à capacidade dos partidos de encontrarem um entendimento, acreditando que o país não passará por uma crise orçamental.
Contexto político
A declaração de Marcelo surge em meio a intensas negociações entre o Governo e os partidos da oposição para a aprovação do Orçamento de Estado de 2025. A proposta do governo socialista, liderado pelo primeiro-ministro António Costa, enfrenta forte resistência por parte de partidos à esquerda e à direita do espectro político. Entre as principais áreas de discórdia estão os níveis de investimento em serviços públicos, como saúde e educação, e as políticas fiscais que afetam tanto empresas como trabalhadores.
Nos últimos dias, houve especulações sobre a possibilidade de o Governo não conseguir os votos necessários para aprovar o Orçamento, o que poderia levar a um cenário de crise política e até à dissolução do Parlamento, forçando eleições antecipadas. Contudo, o Presidente Marcelo descartou esse cenário, mostrando-se confiante na capacidade de diálogo entre as forças políticas.
“Sabemos que há divergências, mas estou convencido de que, como sempre, o bom senso prevalecerá e haverá um entendimento que permita a aprovação do Orçamento”, afirmou Marcelo, reforçando que a rejeição de um orçamento neste contexto seria “altamente prejudicial” para o país, especialmente num período de recuperação económica pós-pandemia.
O papel de Marcelo na mediação política
Desde que assumiu a presidência, Marcelo Rebelo de Sousa tem sido amplamente reconhecido pela sua capacidade de mediação entre os diferentes partidos, promovendo o diálogo e evitando impasses políticos. Neste contexto específico, a sua intervenção tem sido vista como crucial para manter a estabilidade política. O Presidente tem se reunido regularmente com líderes partidários e representantes do Governo, procurando suavizar as tensões e encontrar soluções viáveis que possam ser aceitas por uma maioria parlamentar.
A expressão “realisticamente otimista”, utilizada por Marcelo, reflete a sua crença de que, apesar das dificuldades, o processo orçamental chegará a um desfecho positivo. “Temos de ser realistas sobre os desafios que enfrentamos, mas também otimistas quanto à nossa capacidade de superá-los. Acredito que este otimismo é fundamentado na história recente de sucesso das negociações orçamentais em Portugal”, declarou o Presidente.
As principais áreas de divergência
A proposta de Orçamento de Estado de 2025 tem gerado debates acalorados em torno de várias questões chave. Os partidos de esquerda, como o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português (PCP), têm criticado o que consideram ser uma falta de ambição do Governo em aumentar significativamente os investimentos nos serviços públicos. De acordo com Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, o orçamento proposto “mantém políticas de austeridade encobertas” ao não prever maiores investimentos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e nas políticas de habitação.
Por outro lado, o Partido Social Democrata (PSD) e outras forças de direita têm se oposto ao que consideram ser um aumento desnecessário de impostos, que segundo eles, penalizam o setor privado e desincentivam o crescimento económico. Luís Montenegro, líder do PSD, afirmou que o orçamento atual “continua a sobrecarregar empresas e famílias”, propondo, em alternativa, uma redução nos impostos sobre o rendimento e o IVA.
Consequências de um impasse orçamental
Caso o Orçamento não seja aprovado, o Governo enfrenta a possibilidade de cair, resultando em um cenário de eleições antecipadas. No entanto, este é um desfecho que Marcelo Rebelo de Sousa tem procurado evitar. “Um impasse político neste momento seria extremamente prejudicial para o país. A incerteza política pode minar a confiança dos investidores, afetar a recuperação económica e agravar a crise social que ainda sentimos”, alertou o Presidente.
A estabilidade económica e social é um dos principais argumentos utilizados por Marcelo ao apelar aos partidos para que cheguem a um acordo. Com uma inflação que começa a dar sinais de abrandamento e uma taxa de desemprego que se mantém relativamente baixa, o Presidente sublinhou a importância de manter este percurso de recuperação. “Agora não é o momento para aventuras políticas ou para colocar em risco o que tanto nos custou a alcançar”, afirmou.
O papel da sociedade civil
As declarações de Marcelo também foram um apelo indireto à sociedade civil. Organizações empresariais e sindicais têm acompanhado de perto as negociações orçamentais, expressando preocupações com os potenciais impactos de um eventual impasse político. A Confederação Empresarial de Portugal (CIP) e a UGT (União Geral de Trabalhadores) já manifestaram o desejo de ver um acordo orçamental que assegure a estabilidade e permita continuar a recuperação económica sem mais percalços.
António Saraiva, presidente da CIP, destacou que “as empresas precisam de previsibilidade”, enquanto Carlos Silva, secretário-geral da UGT, frisou a importância de que o orçamento “responda às necessidades dos trabalhadores, especialmente aqueles mais afetados pela crise económica recente”.
Apesar das tensões e divergências entre os partidos, a mensagem de Marcelo Rebelo de Sousa é clara: a estabilidade política é essencial para o futuro do país. O Presidente acredita que o entendimento entre as forças políticas será alcançado e que o Orçamento de Estado de 2025 será aprovado, assegurando assim que Portugal continue no caminho da recuperação económica. Para Marcelo, a confiança no diálogo e no compromisso mútuo é o caminho a seguir.